Um levantamento realizado pela Polícia Civil mostra que a cada três horas uma criança ou adolescente é vítima de abuso sexual no Rio Grande do Sul. Para oferecer um atendimento completo, qualificado e acolhedor a essas vítimas, Santa Maria irá inaugurar o primeiro Centro de Referência em Atendimento Infantojuvenil (CRAI) do município no dia 18 de maio. O espaço será implementado no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) — referência neste tipo de serviço desde 2014, e irá atender os 33 municípios da região da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde. Essa mudança permite que crianças e adolescentes recebam atendimento médico, psicológico, policial e pericial na mesma estrutura, evitando revitimização e exposição das vítimas, para que não seja necessário recontar a história do abuso sofrido.
Este será o sexto CRAI do Estado e irá atender casos de suspeita ou confirmação de abuso sexual de crianças e adolescentes de zero a 18 anos. O atendimento ininterrupto — 24h por dia, 7 dias por semana — será oferecido por livre demanda no centro obstétrico, pronto-socorro pediátrico e ambulatório do hospital universitário:
— Para atendimentos de urgência, situações agudas em que o abuso ocorreu em até 72h, teremos livre demanda sempre. Além disso, teremos mais dois turnos de acolhimento na segunda e na sexta-feira para aquelas situações (casos recorrentes) em que o município ou escola identifique essa situação de violência há algum tempo. Não existe um número fixo de atendimentos por mês, todas as demandas levantadas nesses 33 municípios, nós iremos atender — explicou a enfermeira Berenice Rodrigues, chefe da Divisão do Cuidado do Husm, ao vivo no Bom Dia, Cidade! desta sexta (9).
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O CRAI Santa Maria é uma ação conjunta entre a Secretaria Estadual de Saúde, 4ª CRS, Secretaria Estadual de Segurança Pública, Secretaria Municipal de Saúde Ministério Público Estadual e Husm, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
Equipe multiprofissional de saúde
Além de disponibilizar atendimento de saúde com medidas profiláticas (prevenção de doenças sexualmente transmissível e contracepção de emergência), o Crai irá oferecer atendimento de acolhimento e escuta qualificada. O trabalho, realizado por livre demanda e também por agendamento, será realizado com profissionais de psicologia e serviço social.
Já nas portas de entrada (casos agudos), serão realizados atendimentos a partir de uma equipe multiprofissional de médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais. Para casos onde as vítima necessite consultar com outra especialidade, o local também irá disponibilizar atendimento nas áreas de ginecologia, urologia, proctologia e psiquiatria.
Para buscar o serviço, não é necessário que a vítima tenha feito registro policial. Os profissionais do CRAI irão acionar a Polícia Civil para realização do boletim de ocorrência. E, se a polícia julgar necessário, ela irá solicitar auxílio do Instituto Geral de Perícias (IGP) para coleta de vestígios.
Últimos ajustes
Na tarde de quarta-feira (7), secretários de saúde e representantes desses 33 municípios da região da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, bem como do Ministério Público, da Delegacia Regional da Polícia Civil, do Instituto Geral de Perícias e da Gestão do Husm, além de profissionais de saúde e da proteção, se reuniram no Auditório Gulerpe, no Hospital Universitário, para finalizar os fluxos de atendimento.
— Agora a gente tá nesse processo final de aprovação dos fluxos da saúde, com a Polícia Civil, perícia, municípios, as portas de entrada e também do segmento em rede. Isso porque essa família, criança e adolescente vai precisar de um tempo de acompanhamento para que esse evento seja um mínimo danoso possível. Sempre objetivando não revitimizar, para que a porta de entrada esteja qualificada para fazer essa primeira escuta e já fazer o encaminhamento correto.
A data escolhida para o início do serviço faz referência ao 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
Estado registra 27 casos por dia
Segundo o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, o Rio Grande do Sul registra 27 casos de violência contra crianças e adolescentes por dia. A violência sexual ocupa o segundo lugar no ranking estadual, com 25% das notificações. A subnotificação preocupa: estima-se que apenas 10% dos casos chegam ao conhecimento das autoridades. Entre 2018 e 2020, 29.320 crianças e adolescentes foram vítimas de violência no Rio Grande do Sul, conforme dados do Sinan.
*com informações do Governo do Estado